terça-feira, 29 de abril de 2014

Sobre ser Team Heráclito

"Nada é permanente, salvo a mudança."

Começo o desabafo de hoje com essa (possível -- jamais confie na internet) citação de Heráclito. É, um daqueles caras que você decora pra fazer prova de Filosofia (NÃO DEVERIA, SEU PALHAÇO, FILOSOFIA É PRA ESTUDAR DIREITO).

Mas, velho, presta atenção. O cara era sinistro.

Heráclito dizia que tudo está em permanente mudança. Que, assim como as águas dos rios, o ser humano se renova a cada momento. E isso é verdade, cara. Tenho certeza que você já conversou com um pessoa e mudou totalmente seu modo de enxergar alguma coisa. Ou alguma coisa que essa pessoa disse provocou uma série de pensamentos que, puta merda, qual o mundo que eu vivia mesmo? Ou até quando alguém fala uma parada tão estúpida que isso altera por completo a visão que você tinha dela. Sei lá, né, gente, acontece.

Pra mim, é inconcebível a ideia de que as coisas são imutáveis, são o que são e ponto final. É impossível pensar que não há nenhum tipo de alteração constante nas coisas, na natureza, quando nós, relés seres humanos, estamos em contínua mudança -- não só mental, mas também física -- e continuaremos mudando até depois de mortos. E, cara, assim como as águas dos rios se renovam a cada instante, também se renova o calor do fogo, o sopro do vento, a força da terra, a mente do ser.

Somos Homo sapiens sapiens, tão filhos do Universo como o Sol e as estrelas, tão natureza quanto os rios, as florestas. Mudamos junto com eles, por causa deles, transformando-nos neles. Somos tão responsáveis pelas mudanças do que é natural como isso também o é pela nossa própria. Adaptamo-nos ao meio, não só física, mas também intelectualmente.

Confuso. Muito confuso.

De qualquer forma, nós somos parte de um grande organismo vivo, e justamente por ser vivo, pulsante, ele está em incessante mudança. Porque o que é vivo tende a transpor a si próprio.

Não há ser ou espaço que passe intacto pela dádiva que é vida, meus caros.

OBS: Me expulsem do ano de 2014. Sei lá, eu tinha mais coisa pra falar sobre isso. Melhor não.


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Sobre paradas legais e outras não tão legais assim

Meu plano pra hoje, depois de um mês de pura (mais ou menos) dedicação aos estudos (mais reclamando do que de fato estudando), era escrever sobre uma parada legal.

Aí eu lembrei que não consigo falar sobre paradas legais, interessante, relevantes pras pessoas. Geralmente o que eu faço é reclamar, galera. Não tem jeito.

Mas falando em reclamar, acho que não estou em posição de fazer isso agora. Pra ser sincera, nunca estive, mas fingia estar porque eu precisava pensar que tinha um motivo pra falar merda pra não me sentir ainda pior. Tá, isso fez zero sentido. Mas mesmo assim.

Antes de ir direto ao ponto, uma divagação: acho que as sucessivas crises que eu tive durante os últimos meses (????) foram meio que transformando a Marcela Otimista Raio De Sol 24 Horas Por Dia em Marcela Realista Sol Com Algumas Nuvens Pancadas De Chuva À Tarde E À Noite. E isso é uma merda. Eu gostava de ser otimista, de achar um lado positivo em qualquer problema, nem que seja "olha, pelo menos você não tem câncer". Vamos ser sinceros, a possibilidade da pessoa sofrer de algum câncer nessa vida é muito grande.

Mas enfim, o fato é que parece que as lentes cor-de-rosa que cobriam os meus olhos estão caindo cada vez mais rápido e com elas cai também a perspectiva de um futuro bacana. Sei lá, acho que é o peso dos meus já-quase-batendo-na-minha-porta 18 anos que está me puxando pr'O Mundo Adulto. Só que perguntar se eu quero ir, que é bom, nada, né?

Parece que a cada dia que passa é um passo que eu dou pra trás, não pra frente. As coisas sempre parecem estar sempre mais e mais longe de mim. E, cara, isso não tá servindo de motivação, não. Eu estou cansada.

Mas ao mesmo tempo que estou cansada, pensar na vidinha medíocre que provavelmente me espera me assusta. De duas coisas tenho certeza: minha cadeirinha ao lado do Satanás tá guardada (só com as heresias que disse em 17 anos de vida, eu já reservei meu lugar no quentinho) e eu não quero contar pra ele pela eternidade como era legal ter uma rotina babaca, num trabalho babaca, rodeada de gente babaca sendo babaca. Não, gente. Não. Sat não me esperou esse tempo todo pra isso, fala sério.

Legal que eu disse no início do texto que "não tenho motivos pra reclamar", mas olha o que fiz durante ele todo. Desculpa, reclamar é mais forte que a minha vontade de ser uma pessoa menos reclamona. Não ligo.

Apesar de tudo isso, as coisas parecem melhorar num lado da história. O meu ambiente escolar, agora que eu mudei de sala, melhorou em 400%, sério. Só de já não entrar mais em sala e lamentar não ter trago o fuzil que nunca tive já fez, ó, uma diferença absurda.

E ainda temos o Music Bank que vai ter em junho (EU VOU VER MINHAS CRIANÇAS, SAIAM DA MINHA FRENTE), o que significa que, além de ver as minhas crianças (MINHAS CRIANÇAS!!!), eu vou também ver a Nemo, depois de três anos de amizade via internet. O que estou sentindo transcende a felicidade.

Mas.

Mas.

Maaaaaaaaaaaaaaaas.

Aí entra o lado desconfiado/realista/babaca de Marcela. Sabe aquela sensação de "tá tudo muito bom pra ser verdade"? Então.

Sou adepta daquele conceito de vida e felicidade do Schopenhauer que Giovana (<3) nos apresentou um dia. A sua existência é uma linha de sofrimento com alguns intervalos onde acontecem coisas legais. Eu to no Intervalo Das Coisas Legais agora, mas a minha cabeça tá buscando quando ele vai acabar. Entende?

Eu aguardo o próximo bloco de sofrimento como quem tem malária espera a próxima febre. E todos nós sabemos que a espera é a pior parte.

OBS: AYOOOOOOOOO FOI MAL.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Sobre escapar

Cara, tá foda.

Essa frase sumariza todo o meu ano até o presente momento.

Cara, tá foda.

Estou muito cansada. Exausta. Esgotada. Estressada. Com vontade de chorar de tão acabada, mas nada sai. Acho que isso é resultado de anos e mais anos de estudo combinados com a minha crescente e eminente ansiedade (e ela, sempre ela, a depressão). Pode ser também pela pressão de passar no vestibular -- clichê, mas é um drama real -- porque, cara, muito na minha vida depende disso, por mais que o que eu queira não esteja na faculdade. É estabilidade, tempo pra pensar, orgulho pros meus pais. E nem por todas as coisas boas do mundo os meus pés voltam a pisar numa escola.

A pior parte de estar exausto é saber que você vai acordar no dia seguinte. Vai ter que botar a cara no mundo e fazer tudo o que sempre fez porque não existem escolhas a serem feitas. Não tem saída, irmão. Ou você faz, ou o mundo te engole.

Tem horas que eu queria ser engolida pelo mundo. Não é como se fosse fazer falta pra alguém. Não é como se fossem fazer luto de sete dias e sete noites. Não é como se as pessoas se importassem porque, bam, elas não se importam. A maioria, pelo menos, não. E a sensação de a minha presença não fazer a menor diferença entre as outras sete bilhões de presenças no mundo meio que piora as coisas. Chato isso.

Mas, olha, eu ficaria satisfeita se eu pudesse só escapar. Sair daqui, ir pra qualquer lugar o mais longe possível de tudo que me é conhecido. Ir pra um lugar onde ninguém soubesse o meu nome (não é muito difícil por conta da minha grandíssima popularidade, mas você entendeu), onde eu não conhecesse ninguém (novamente, não muito difícil, mas você entendeu, seu bosta). Totalmente largada no mundo, sem telefone (ODEIO TELEFONE, MEU DEUS, COMO EU ODEIO), sem internet, sem nenhum meio de comunicação com a realidade que estou acostumada. Só um caderno, meu notebook, minhas músicas, algumas canetas, talvez um dicionário normal e outro de rimas.

Ia me fazer muito bem, coisa e tal, mas não dá pra sonhar demais com o fantasma de um simulado de matemática e química bafejando no meu cangote. Escroto, né? A realidade te puxa dos devaneios tão bruscamente que você chega a se perguntar por que devanear, em primeiro lugar. O sonho não tem espaço quando se existem roteiros pra fazer, matérias pra estudar, simulados, provas, rankings, vestibular, inscrição, exercício, módulo, módulo, módulo, módulo...

Não tem saída, irmão. Não tem pra onde correr.

Fugir disso, na época em que estamos, é como fugir da morte. Ou fugir para a morte. A morte da sua mente, quando você sabe bem que é um fraco, um perdedor, um desistente, um erro da natureza destinado a conquistar derrotas. A morte de qualquer faísca de orgulho dos seus pais, que vão ser obrigados a tentar entender uma coisa subjetiva e completamente íntima sua e ficar com aquele discursinho de "nós te amamos de qualquer jeito!", mas na verdade eles morrem de inveja do filho do vizinho que passou pra Medicina. Talvez a própria Morte mesmo, não existem vários casos de suicídio por conta do estresse? Ninguém sabe o quanto os outros podem aguentar. E ninguém pode ser julgado pelos seus limites.

Enquanto fugir não é uma opção, eu continuo aqui. Existindo, tentando suportar essa crise existencial escrota, fazendo o máximo pra não cagar pros estudos, guardando todos os gritos e lágrimas pesadas de frustração dentro de mim, digerindo essa sensação de vazio, de despertencimento, de inadequação. De derrota. De falha.

Se eu chegar até o fim do ano viva, é porque morri há muito tempo.


terça-feira, 1 de abril de 2014

Sobre (não) pertencer a algum lugar

Não sei como começar esse texto, assim como não sei como começar coisas. Começos são muito complicados, creio. Mas vou tentar.

Estava eu ontem lendo o segundo caderno do jornal O Globo (lembrei de comprar depois de umas duas semanas de "MERDA, ESQUECI!" seguidos por tapas na testa), quando me deparo com um texto falando sobre um livro de um escritor americano que até então me era desconhecido.

O nome é Paul Theroux e a obra se chama "O rio inferior". Nele, Paul fala sobre viagens e voltar a lugares que um dia te trouxeram felicidade. Foi baseado em suas próprias experiências, já que ele é um cara que curte dar aquela escapadinha marota.

Acho que não preciso dizer que o texto inteiro foi sobre o sentimento de viajar. E isso me lembrou de algumas coisas que andavam meio soterradas aqui dentro.

Pra fechar o caixão, eu e a minha mãe tivemos uma conversa (mais ou menos) sobre viagens. O dia ontem estava propício, pra você ver.

Eu nunca me senti como se pertencesse a algum lugar. Mesmo amando o país que vivo com tudo que há dentro de mim, não me sinto como se fizesse parte daqui. Nem de lugar nenhum. Nem de grupo social nenhum. Sempre estive só, sempre estarei só. É como as coisas são. 

Não sabemos quem somos até sairmos de casa (Paul Theroux)

Essa foi a frase que me despertou alguma coisa. Acho que o meu problema com pertencimento vem de eu não saber quem sou. Não sinto como se eu tivesse uma única definição pro que sou. Acho que sou uma função. Tudo que sou depende do ambiente em que me botam, a condição que me é imposta, o valor que me assumem.

E, maluco, isso é chatão.

Eu sinto como se eu não tivesse alguma coisa pra me sustentar. Se alguém chegar e me perguntar qualquer coisa sobre mim, não vou saber responder porque eu não sei. E acho que já deixei bem claro o ódio que tenho de perguntas sem resposta. Essa é mais uma delas.

Eu preciso me achar. Não necessariamente me definir, mas me saber. Compreender. Ter uma imagem minha, do que sou, do que quero ser. Como as pessoas esperam que eu saiba o que quero ser se não sei nem o básico sobre mim?

Quer dizer, eu sei muito sobre os outros. Sei seus aniversários (geralmente. E isso vem da minha obsessão com datas), seus gostos, como elas agem, o que elas fazem em determinadas situações, seus trejeitos, suas frases feitas. Tudo. Mas o que eu sei sobre mim?

"Oi, meu nome é Marcela e eu gosto da cor azul."

"Oi, meu nome é Marcela e eu gasto 8,80 reais num cappuccino porque é gostoso."

Patético.

Eu preciso sair daqui, fugir desse lugar, dessa casa, do que é confortável (em partes). Eu preciso meter a cara no mundo, sair por aí sem destino, sem hora pra voltar.

Às vezes me pego pensando se essa coisa de não pertencer a lugar nenhum significa que eu pertenço a todos os lugares. Que sou uma cigana (fora das minhas próprias piadas com a minha vida acadêmica derrotada), que eu não consigo passar mais de um dia respirando o mesmo ar, vendo as mesmas pessoas.

Talvez eu seja feita pra fugir. Escapar de madrugada das garras do sentimento de pertencimento, pulando a janela e caçando o horizonte só com a roupa do corpo.

Talvez eu não seja feita pra pertencer a alguma coisa (ou a alguém). Talvez eu tenha alma de viajante. Talvez tudo que eu precise é uma mala, um passaporte e um casaquinho porque pode estar frio.

Vai saber.

OBS: texto confuso e meia-boca (normal). Desculpa.