terça-feira, 8 de abril de 2014

Sobre escapar

Cara, tá foda.

Essa frase sumariza todo o meu ano até o presente momento.

Cara, tá foda.

Estou muito cansada. Exausta. Esgotada. Estressada. Com vontade de chorar de tão acabada, mas nada sai. Acho que isso é resultado de anos e mais anos de estudo combinados com a minha crescente e eminente ansiedade (e ela, sempre ela, a depressão). Pode ser também pela pressão de passar no vestibular -- clichê, mas é um drama real -- porque, cara, muito na minha vida depende disso, por mais que o que eu queira não esteja na faculdade. É estabilidade, tempo pra pensar, orgulho pros meus pais. E nem por todas as coisas boas do mundo os meus pés voltam a pisar numa escola.

A pior parte de estar exausto é saber que você vai acordar no dia seguinte. Vai ter que botar a cara no mundo e fazer tudo o que sempre fez porque não existem escolhas a serem feitas. Não tem saída, irmão. Ou você faz, ou o mundo te engole.

Tem horas que eu queria ser engolida pelo mundo. Não é como se fosse fazer falta pra alguém. Não é como se fossem fazer luto de sete dias e sete noites. Não é como se as pessoas se importassem porque, bam, elas não se importam. A maioria, pelo menos, não. E a sensação de a minha presença não fazer a menor diferença entre as outras sete bilhões de presenças no mundo meio que piora as coisas. Chato isso.

Mas, olha, eu ficaria satisfeita se eu pudesse só escapar. Sair daqui, ir pra qualquer lugar o mais longe possível de tudo que me é conhecido. Ir pra um lugar onde ninguém soubesse o meu nome (não é muito difícil por conta da minha grandíssima popularidade, mas você entendeu), onde eu não conhecesse ninguém (novamente, não muito difícil, mas você entendeu, seu bosta). Totalmente largada no mundo, sem telefone (ODEIO TELEFONE, MEU DEUS, COMO EU ODEIO), sem internet, sem nenhum meio de comunicação com a realidade que estou acostumada. Só um caderno, meu notebook, minhas músicas, algumas canetas, talvez um dicionário normal e outro de rimas.

Ia me fazer muito bem, coisa e tal, mas não dá pra sonhar demais com o fantasma de um simulado de matemática e química bafejando no meu cangote. Escroto, né? A realidade te puxa dos devaneios tão bruscamente que você chega a se perguntar por que devanear, em primeiro lugar. O sonho não tem espaço quando se existem roteiros pra fazer, matérias pra estudar, simulados, provas, rankings, vestibular, inscrição, exercício, módulo, módulo, módulo, módulo...

Não tem saída, irmão. Não tem pra onde correr.

Fugir disso, na época em que estamos, é como fugir da morte. Ou fugir para a morte. A morte da sua mente, quando você sabe bem que é um fraco, um perdedor, um desistente, um erro da natureza destinado a conquistar derrotas. A morte de qualquer faísca de orgulho dos seus pais, que vão ser obrigados a tentar entender uma coisa subjetiva e completamente íntima sua e ficar com aquele discursinho de "nós te amamos de qualquer jeito!", mas na verdade eles morrem de inveja do filho do vizinho que passou pra Medicina. Talvez a própria Morte mesmo, não existem vários casos de suicídio por conta do estresse? Ninguém sabe o quanto os outros podem aguentar. E ninguém pode ser julgado pelos seus limites.

Enquanto fugir não é uma opção, eu continuo aqui. Existindo, tentando suportar essa crise existencial escrota, fazendo o máximo pra não cagar pros estudos, guardando todos os gritos e lágrimas pesadas de frustração dentro de mim, digerindo essa sensação de vazio, de despertencimento, de inadequação. De derrota. De falha.

Se eu chegar até o fim do ano viva, é porque morri há muito tempo.


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