terça-feira, 1 de abril de 2014

Sobre (não) pertencer a algum lugar

Não sei como começar esse texto, assim como não sei como começar coisas. Começos são muito complicados, creio. Mas vou tentar.

Estava eu ontem lendo o segundo caderno do jornal O Globo (lembrei de comprar depois de umas duas semanas de "MERDA, ESQUECI!" seguidos por tapas na testa), quando me deparo com um texto falando sobre um livro de um escritor americano que até então me era desconhecido.

O nome é Paul Theroux e a obra se chama "O rio inferior". Nele, Paul fala sobre viagens e voltar a lugares que um dia te trouxeram felicidade. Foi baseado em suas próprias experiências, já que ele é um cara que curte dar aquela escapadinha marota.

Acho que não preciso dizer que o texto inteiro foi sobre o sentimento de viajar. E isso me lembrou de algumas coisas que andavam meio soterradas aqui dentro.

Pra fechar o caixão, eu e a minha mãe tivemos uma conversa (mais ou menos) sobre viagens. O dia ontem estava propício, pra você ver.

Eu nunca me senti como se pertencesse a algum lugar. Mesmo amando o país que vivo com tudo que há dentro de mim, não me sinto como se fizesse parte daqui. Nem de lugar nenhum. Nem de grupo social nenhum. Sempre estive só, sempre estarei só. É como as coisas são. 

Não sabemos quem somos até sairmos de casa (Paul Theroux)

Essa foi a frase que me despertou alguma coisa. Acho que o meu problema com pertencimento vem de eu não saber quem sou. Não sinto como se eu tivesse uma única definição pro que sou. Acho que sou uma função. Tudo que sou depende do ambiente em que me botam, a condição que me é imposta, o valor que me assumem.

E, maluco, isso é chatão.

Eu sinto como se eu não tivesse alguma coisa pra me sustentar. Se alguém chegar e me perguntar qualquer coisa sobre mim, não vou saber responder porque eu não sei. E acho que já deixei bem claro o ódio que tenho de perguntas sem resposta. Essa é mais uma delas.

Eu preciso me achar. Não necessariamente me definir, mas me saber. Compreender. Ter uma imagem minha, do que sou, do que quero ser. Como as pessoas esperam que eu saiba o que quero ser se não sei nem o básico sobre mim?

Quer dizer, eu sei muito sobre os outros. Sei seus aniversários (geralmente. E isso vem da minha obsessão com datas), seus gostos, como elas agem, o que elas fazem em determinadas situações, seus trejeitos, suas frases feitas. Tudo. Mas o que eu sei sobre mim?

"Oi, meu nome é Marcela e eu gosto da cor azul."

"Oi, meu nome é Marcela e eu gasto 8,80 reais num cappuccino porque é gostoso."

Patético.

Eu preciso sair daqui, fugir desse lugar, dessa casa, do que é confortável (em partes). Eu preciso meter a cara no mundo, sair por aí sem destino, sem hora pra voltar.

Às vezes me pego pensando se essa coisa de não pertencer a lugar nenhum significa que eu pertenço a todos os lugares. Que sou uma cigana (fora das minhas próprias piadas com a minha vida acadêmica derrotada), que eu não consigo passar mais de um dia respirando o mesmo ar, vendo as mesmas pessoas.

Talvez eu seja feita pra fugir. Escapar de madrugada das garras do sentimento de pertencimento, pulando a janela e caçando o horizonte só com a roupa do corpo.

Talvez eu não seja feita pra pertencer a alguma coisa (ou a alguém). Talvez eu tenha alma de viajante. Talvez tudo que eu precise é uma mala, um passaporte e um casaquinho porque pode estar frio.

Vai saber.

OBS: texto confuso e meia-boca (normal). Desculpa.

2 comentários:

  1. Entrei numa crise, certa vez, porque descobri a palavra "ecdemomania", que significa, basicamente, uma vontade louca de sair por aí viajando. Quando paro pra pensar sobre mim mesma, as únicas coisas que eu sei é que, um, eu vivo pra escrever, e, dois, eu não posso ficar muito tempo num mesmo lugar. Desde os móveis do quarto sempre numa mesma posição até os momentos em que eu percebo que faz muito tempo que eu não vou nem ali na praia de Icaraí dar uma olhadinha no mar e sentir uns ventos novos, o incômodo e a sensação de que agora eu me transformei nesse tipo de pessoa que aceita a realidade e se encaixa nela me deixam louca. Vou te confessar, esse texto me deixou cheia de vontade de chorar e te dar um abraço, porque porra, finalmente alguém entende. Tudo se baseia nisso de que eu não nasci pra pertencer à nenhuma rotina, à nenhum status, à nenhum lugar. Até a escolha da minha profissão é a que é porque eu acredito que ela me permita conhecer mais gente, mais histórias, mais vida, afinal a minha não é, nem nunca foi, um modelo ao qual eu quero ser fiel ou que eu considere bom o suficiente para se tornar constante. Nunca havia pensado sobre isso de talvez pertencer à todos os lugares, e gostei demais dessa definição, assim como gostei demais do resto do post inteiro. Você é fantástica, Marcela, na boa. Tô providenciando o anel de casamento.

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    1. MEU DEUS EU TO EM LÁGRIMAS DEIXA EU ME RECOMPOR.

      Amanda, é o destino, a gente tem que se casar. NOSSOS FILHOS SERÃO LINDOS!!!!!

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