sexta-feira, 21 de março de 2014

Sobre vocação

Eu passei os últimos dezessete anos tentando encontrar a minha vocação. O que, posso garantir, foi uma experiência um tanto quanto escrota.

Tudo começou no ensino básico. Lá, onde você achava que sabia algum pentelhésimo de Matemática e Português (a.k.a quando você não conhecia orações subordinadas ou relações trigonométricas no triângulo retângulo). Lá, quando você via todos os seus amigos tendo uma forte inclinação pra alguma das - cinco - matérias.

E você lá. Na merda.

Na merda, de fato, porque eu sempre estive dividida entre gostar de todas as matérias e odiá-las profundamente. Isso acontece até hoje, aliás. Não existe nenhum santo assunto que eu goste por inteiro, a minha missão é achar alguma coisa pra detestar em tudo.

Mas pior do que isso, creio, foi a sensação de "isso é legal, até chama a minha atenção, mas eu não quero ficar fazendo isso a minha vida toda nem que Jesus desça do Céu, bote o dedo na minha cara e mande eu fazer" que me atingia no que concernia a tudo que me era ensinado na escola (tenho a impressão de que essa frase não soou do jeito que eu queria, o que é normal; eu nunca consigo traduzir direito o que a minha mente pensa porque esse lugar é um caos completo. Mas disso a gente fala em outro texto). Eu nunca pude bater no peito e berrar "EU AMO TAL MATÉRIA COM TODAS AS MINHAS FORÇAS" em praça pública porque, cara... Será que eu amo mesmo?

Pra mim, não existe isso de amar pela metade. Ou você ama tudo, ou não ama. Então como posso amar, sei lá, Gramática, se quando a professora toca no nome amaldiçoado da morfossintaxe eu já tenho vontade de cometer um homicídio em massa? Se eu, pelo menos, aceitasse a existência dessa coisa, tudo seria mais fácil. Aceitar é parte de amar. Quando você aceita os defeitos de uma pessoa, você a ama apesar deles (ou os ama, ainda não tive tempo de descobrir). O problema é que eu odeio essa criação da besta-fera como o Noel Gallagher odeia o resto da humanidade.

E assim foi caminhando a minha vida acadêmica, até o crucial momento que dividiu a minha vida em antes e depois: A Redação Aleatória Na Alfabetização. Foi naquele momento que eu percebi que eu estava fadada a estar na merda pro resto da minha vida.

A história foi mais ou menos assim: a professora pediu pra gente escrever um texto sobre uma imagem, que era de um sapo pedindo uma sapa em casamento. Aí a minha imaginação de criança pintou e bordou. Escrevi a porcaria do conto (eu falo sobre ele em outra oportunidade) e entreguei com a maior felicidade do mundo. Eu já escrevia textos daquele tipo desde que eu aprendi a juntar letrinhas, só que eu guardava tudo pra mim (tem coisas que nunca mudam). Aquele foi o primeiro escrito meu que eu mostrei pra alguém.

Não me lembro direito o que aconteceu depois. Tudo que eu sei foi que aquela respeitável senhora saiu mostrando meus sapos pra escola inteira. E, sei lá, foi legal. Saber que as pessoas gostaram de algo inteiramente meu foi, no mínimo, gratificante.

E foi aí que a Marcela de seis anos de idade (ou foi com cinco?) pensou que, talvez, fosse aquela a sua vocação. Fazer arte. Mostrar pro mundo seus vários sapinhos guardados a sete chaves numa pasta no computador dos pais. E, cara, é isso que eu gosto de fazer. Mesmo que eu mude o formato de texto every now and then (desde agosto do ano passado, tomei um gosto muito grande por escrever algo que eu não sabia que conseguia: música. Mas disso eu falo mais pra frente), escrever é o que me faz bem. É o que eu amo por inteiro.

Mas fala aí, eu não podia simplesmente gostar de Matemática? Seria tudo tão mais fácil. Era só escolher uma profissão ligada àquilo e pronto, tava feita na vida. Mas, não. Óbvio que não. Sou eu, afinal. Sempre optando pelo mais difícil, pelo caminho mais sinuoso, pelas pedras mais afiadas.

Desde os seis anos, então, eu venho aprimorando esse meu gosto pela arte da escrita (por mais que eu ainda seja um lixinho pensante quando se trata disso) e como expandir isso. Eis que, no ano passado, eu acabei por juntar as duas maiores paixões da minha vida, a música e a escrita (como eu disse ali em cima). Aliás, em momento nenhum desse texto eu falei sobre música, né? Não faz mal, eu falo agora (acostume-se, minha mente é um caos).

Eu tenho contato com a música desde que me entendo por gente. Meu pai sempre colocava os discos dele no rádio do carro pra nós ouvirmos. Pink Floyd, Bee Gees, ABBA, Queen (mil corações), Elton John (mil corações também), Cazuza, entre vários outros que eu não consigo me lembrar agora. É engraçado pensar nisso, mas eu não gostava das músicas que ele ouvia e - já mostrando traços da futura Marcela - às vezes, eu reclamava com a minha mãe.

 "Meu Deus, Marcela, como você era escrota". Tira esse verbo do passado porque eu ainda sou.

Mas voltemos à música (foco, Marcela).

Eu gostava muito das músicas do meu irmão, embora na época eu jurasse de pé junto que detestava e preferia fazer cem questões de arme e efetue a ouvir um minuto daquele troço. Ele curtia Green Day, Linkin Park, Red Hot Chilli Peppers, Simple Plan (O Emo), My Chemical Romance (O Emo: A Sequência) e várias outras dessas bandas de rock que nós dois ouvimos até hoje.

A minha vida toda foi preenchida por música. Todas as viagens de carro, limpezas da casa ou momentos de ócio tinham a sua trilha sonora sagrada. É por isso que a música hoje me soa tão natural. É normal, pra mim, ser obcecada por ouvir alguma coisa em todos os momentos em que aparece a oportunidade.

Aliás, eu adoro ouvir música no ônibus. Eu quase sou linchada toda vez que boto o fone. "Marcela, tira esse fone agora! Você bota esse fone e sai completamente do mundo!" (Às vezes eu acho que as pessoas ainda não se deram conta que é essa a intenção).

Assim como escrever, a música me faz bem. E se todo esse papo de fazer o que te faz bem fosse aceito, eu não estaria tão na merda assim. A verdade é que as pessoas apoiam muito que você faça o que você gosta desde que seja alguma coisa de gente normal. Tipo, sei lá, Arquitetura.

"Mãe, eu quero ser arquiteta!" "Nossa, filha, que bom! Isso mesmo, tem que fazer o que você gosta!"

"Mãe, eu quero fazer música!" "Então, meu amorzinho, você pode até fazer música, mas você não acha melhor fazer outra faculdade antes? Faz Farmácia, moreco, garante seu futuro. Música é hobby, né? Não é profissão de verdade."

Moreco, Farmácia não me faz bem. Arquitetura não me faz bem. Engenharia não me faz bem. Medicina não me faz bem.

Música me faz bem. Fazê-la me faz bem. Compreendê-la me faz bem. Escutá-la me faz bem.

Se esse papo todo de pais fosse sincero, isso de "música é hobby" não aconteceria. Pra mim não é hobby. É amor. É o que eu quero fazer da minha vida. E não existe Direito no mundo que tire isso de dentro de mim.


OBS: Chega. Não vou alongar mais esse texto porque, pelo amor de Deus, deve estar gigante já. Se tiver alguém aí além de mim lendo isso (o que tem 0,0001% de chances de acontecer, já que eu não vou mostrar esse blog pra nenhuma alma viva), minhas sinceras desculpas pelo meu jeito de pensar. Eu penso em muitas coisas ao mesmo tempo e fica meio difícil seguir uma linha só de raciocínio. Deve ter ficado confuso pra cacete, foi mal. De verdade.


0 comentários:

Postar um comentário